Esse blog, é uma janela para o mundo, porque são tantos destinos para uma só vida

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10 de setembro de 2010

Da Gema

                          

A exposição de Fernando Pessoa   no Museu da Língua Portuguesa vem a calhar:        
   

                                                                                   
"Navegar é preciso, viver não é preciso". Desde a minha adolescência canto, brado, repito esse verso  (de)cantado tão lindamente por Caetano Veloso. 
Sempre achei meio dramática e pessimista demais essa afirmação porque, afinal, não estou muito aí para navegar e sim para viver, mas neste ano ganhei uma reflexão de presente da minha amiga Silviane, que atentou para o significado desse "preciso". Navegar é preciso: pega-se uma carta náutica, coordenadas e vamos por aí. Já, viver é totalmente impreciso, pressupõe inventar-se e, principalmente, adaptar-se, é necessário improvisar o tempo todo.

AMEI! Agora que eu canto MESMO a plenos pulmões, e a pontinha de preguiça que tenho da poesia do Pessoa se transforma em admiração declarada.

Sinto vontade de viajar e lembro de Portugal. Você já viu o lugar de onde os portugueses saíam para colonizar o mundo?

É coisa de maluco: o mar superbravo, encostas escarpadas, um paredão de pedra, praticamente uma missão suicida. Mas os caras foram!




E então recebo um doce lindo português!

Sou uma curiosa nata, e esses doces ficam ainda mais gostosos quando saboreados entre amigos, porque nessa hora posso dividir uma curiosidade que adoro. Você sabia que os doces portugueses nasceram nos conventos e são, na maioria, à base de gemas, já que as claras eram usadas para engomar os hábitos das freiras?

Fico querendo saber se é isso mesmo e recorro a uma especialista: Silvia Romero Pamplona morou muito tempo em Portugal, era produtora fotográfica e se especializou em comida. Ao voltar para o Brasil resolveu fazer de sua paixão uma profissão e hoje comanda o Santa Clara, de onde saem comidas maravilhosas e quitutes que ela denomina bem poeticamente de "doçaria conventual".

   





Silvia Romero Pamplona
www.emporiosantaclara.net
http://silviapamplona.blogspot.com

Com vocês, mais curiosidades:



                         




1-Por que você denonima seu negócio de Confeitaria Conventual?

Morei por 15 anos em Portugal por 15 anos. Trabalhei comom produtora fotográfica de conceituados fotógrafos e especializei-me em fotografia culinária. Fiz curso de food styling e, por gostar muito de cozinha, acabei por aprender alguma coisa sobre o assunto. O termo " confeitaria conventual remonta ao século XV, quando em Portugal, bastante medieval ainda, desenvolviam-se nos conventos doces muito rústicos, nos quais se usavam os ingredientes que estavam à mão: ovos, mel, amêndoas e gordura animal!


2-Já ouvi muito falar que os doces portugueses são feitos à base de gemas porque eram um subproduto, já que as claras eram utilizadas para engomar os hàbitos das freiras...
.
Sim, não é lenda, é verdade. Fiéis presenteavam seus abades com animais. Por esse motivo e com  muita sabedoria, desenvolveram doces à base de gemas, muito simples que, em sua maioria usavam a gordura desses animais, como a de porco (!). 

3- E o Brasil? Deve ter sido fundamental com o açúcar de cana para essa iguaria?

O açúcar era estraído da beterraba, ainda também se usa esse tipo de açúcar até hoje, mas moderadamente. O açúcar de cana só foi introduzido na doçaria portuguesa, quando da colonização da Ilha da Madeira, alí as mudas de cana foram plantadas e seu cultivo iniciado.

4- Sugira um truque: a pessoa só tem cinco minutos em casa, dê uma receitinha, please?

Uma receita deliciosa é o pudim Abade de Prisco, feito de claras e gordura de porco. Pode parecer esquisito, mas é dos deuses. 

5-Minidicionário ilustrado dos doces mais famosos e seus ingredientes, os verdadeiros top 10


 1- D. Rodrigo = fios de ovos, fritos e enroladinhos
 2- Barriga de Freira = açúcar, água, gemas, manteiga sem sal, canela em pó
 3- Toucinho do Céu = amêndoas cruas sem pele, açúcar, água, gemas, claras, farinha de trigo sem fermento, manteiga
 4- Papos de Anjo = gemas batidas com claras em neve, cozidas em calda de açúcar
 5- Fofo de Nozes = bolo de nozes bem molhadinho recheado com ovos moles 
 6- Ouriço de Amêndoa = creme consistente de gemas, enroladinho e amêndoas laminadas espetadas no doce como o       espinho do ouriço

 7- Pastel de Natas (ou Belém) = massa folhada recheada com cremes de gemas e polvilhado com canela





E vamos lá, coragem, sem medo de ser feliz, uma iguaria autêntica da confeitaria conventual:
 Pudim que mistura claras e toucinho...vamos?

 PUDIM À ABADE DE PRISCO

  1. 660 g de açúcar
  2. 500 ml de água
  3. 50 d de toucinho gordo
  4. 15 gemas
  5. 1 pau de canela
  6. 1 cálice de vinho do Porto Tawny

Modo de fazer:

Coloca-se na panela 500 g açúcar e a água juntamente com o toucinho, casca de limão e a canela .
Leva-se ao fogo e quando atingir o ponto espadana*,  passa-se a calda por uma peneira, numa tigela larga onde as gemas e o vinho do Porto já foram colocados.
Mistura-se ligeiramente.
Com o restante do açúcar faz-se uma calda em ponto caramelo .
Unta-se uma forma com esta calda e leva-se ao fogo para cozer em banho-maria .
Pare o cozimento quando o doce atingir consistência de pudim...

Desenforme e se delicie com esta maravilha!




E ainda:


Faz umas quatro coleções que a indústria da moda anúncia o amarelo como vedete.  Este ano ainda ecoa a novidade. Parece que agora vai, veja que linda a capa da VOGUE inglesa de agosto, com supertop dinamarquesa FREJA vestida de MiuMiu.

     

E aqui no atellier ficamos felizes em ver cor :











E só prá terminar, imaginem só quantos quindins renderam as gemas depois das claras usadas por essa freirinha adorável, lembra?
"> 

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4 comentários:

PauloTadeu disse...

Quanta informação! Essa mulher sabe muito

Ana Stecca disse...

Hummmmm.....precisamente estou com água na boca!!!

patricia mariani disse...

Que gostoso de ler que é seu texto!leve!

elisa stecca disse...

Comunicar-se é preciso , prá não se estrubicar, claro!!!