"Navegar é preciso, viver não é preciso". Desde a minha adolescência canto, brado, repito esse verso (de)cantado tão lindamente por Caetano Veloso.
Sempre achei meio dramática e pessimista demais essa afirmação porque, afinal, não estou muito aí para navegar e sim para viver, mas neste ano ganhei uma reflexão de presente da minha amiga Silviane, que atentou para o significado desse "preciso". Navegar é preciso: pega-se uma carta náutica, coordenadas e vamos por aí. Já, viver é totalmente impreciso, pressupõe inventar-se e, principalmente, adaptar-se, é necessário improvisar o tempo todo.
Sempre achei meio dramática e pessimista demais essa afirmação porque, afinal, não estou muito aí para navegar e sim para viver, mas neste ano ganhei uma reflexão de presente da minha amiga Silviane, que atentou para o significado desse "preciso". Navegar é preciso: pega-se uma carta náutica, coordenadas e vamos por aí. Já, viver é totalmente impreciso, pressupõe inventar-se e, principalmente, adaptar-se, é necessário improvisar o tempo todo.
AMEI! Agora que eu canto MESMO a plenos pulmões, e a pontinha de preguiça que tenho da poesia do Pessoa se transforma em admiração declarada.
Sinto vontade de viajar e lembro de Portugal. Você já viu o lugar de onde os portugueses saíam para colonizar o mundo?
É coisa de maluco: o mar superbravo, encostas escarpadas, um paredão de pedra, praticamente uma missão suicida. Mas os caras foram!
E então recebo um doce lindo português!
Sou uma curiosa nata, e esses doces ficam ainda mais gostosos quando saboreados entre amigos, porque nessa hora posso dividir uma curiosidade que adoro. Você sabia que os doces portugueses nasceram nos conventos e são, na maioria, à base de gemas, já que as claras eram usadas para engomar os hábitos das freiras?
Fico querendo saber se é isso mesmo e recorro a uma especialista: Silvia Romero Pamplona morou muito tempo em Portugal, era produtora fotográfica e se especializou em comida. Ao voltar para o Brasil resolveu fazer de sua paixão uma profissão e hoje comanda o Santa Clara, de onde saem comidas maravilhosas e quitutes que ela denomina bem poeticamente de "doçaria conventual".
Com vocês, mais curiosidades:
1-Por que você denonima seu negócio de Confeitaria Conventual?
Morei por 15 anos em Portugal por 15 anos. Trabalhei comom produtora fotográfica de conceituados fotógrafos e especializei-me em fotografia culinária. Fiz curso de food styling e, por gostar muito de cozinha, acabei por aprender alguma coisa sobre o assunto. O termo " confeitaria conventual remonta ao século XV, quando em Portugal, bastante medieval ainda, desenvolviam-se nos conventos doces muito rústicos, nos quais se usavam os ingredientes que estavam à mão: ovos, mel, amêndoas e gordura animal!
2-Já ouvi muito falar que os doces portugueses são feitos à base de gemas porque eram um subproduto, já que as claras eram utilizadas para engomar os hàbitos das freiras...
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Sim, não é lenda, é verdade. Fiéis presenteavam seus abades com animais. Por esse motivo e com muita sabedoria, desenvolveram doces à base de gemas, muito simples que, em sua maioria usavam a gordura desses animais, como a de porco (!).
3- E o Brasil? Deve ter sido fundamental com o açúcar de cana para essa iguaria?
O açúcar era estraído da beterraba, ainda também se usa esse tipo de açúcar até hoje, mas moderadamente. O açúcar de cana só foi introduzido na doçaria portuguesa, quando da colonização da Ilha da Madeira, alí as mudas de cana foram plantadas e seu cultivo iniciado.
4- Sugira um truque: a pessoa só tem cinco minutos em casa, dê uma receitinha, please?
Uma receita deliciosa é o pudim Abade de Prisco, feito de claras e gordura de porco. Pode parecer esquisito, mas é dos deuses.
5-Minidicionário ilustrado dos doces mais famosos e seus ingredientes, os verdadeiros top 10
1- D. Rodrigo = fios de ovos, fritos e enroladinhos
2- Barriga de Freira = açúcar, água, gemas, manteiga sem sal, canela em pó
2- Barriga de Freira = açúcar, água, gemas, manteiga sem sal, canela em pó
3- Toucinho do Céu = amêndoas cruas sem pele, açúcar, água, gemas, claras, farinha de trigo sem fermento, manteiga
4- Papos de Anjo = gemas batidas com claras em neve, cozidas em calda de açúcar
5- Fofo de Nozes = bolo de nozes bem molhadinho recheado com ovos moles
6- Ouriço de Amêndoa = creme consistente de gemas, enroladinho e amêndoas laminadas espetadas no doce como o espinho do ouriço
E vamos lá, coragem, sem medo de ser feliz, uma iguaria autêntica da confeitaria conventual:
Pudim que mistura claras e toucinho...vamos?
PUDIM À ABADE DE PRISCO
- 660 g de açúcar
- 500 ml de água
- 50 d de toucinho gordo
- 15 gemas
- 1 pau de canela
- 1 cálice de vinho do Porto Tawny
Modo de fazer:
Coloca-se na panela 500 g açúcar e a água juntamente com o toucinho, casca de limão e a canela .
Leva-se ao fogo e quando atingir o ponto espadana*, passa-se a calda por uma peneira, numa tigela larga onde as gemas e o vinho do Porto já foram colocados.
Mistura-se ligeiramente.
Com o restante do açúcar faz-se uma calda em ponto caramelo .
Unta-se uma forma com esta calda e leva-se ao fogo para cozer em banho-maria .
Pare o cozimento quando o doce atingir consistência de pudim...
Desenforme e se delicie com esta maravilha!
E ainda:
Faz umas quatro coleções que a indústria da moda anúncia o amarelo como vedete. Este ano ainda ecoa a novidade. Parece que agora vai, veja que linda a capa da VOGUE inglesa de agosto, com supertop dinamarquesa FREJA vestida de MiuMiu.
E ainda:
Faz umas quatro coleções que a indústria da moda anúncia o amarelo como vedete. Este ano ainda ecoa a novidade. Parece que agora vai, veja que linda a capa da VOGUE inglesa de agosto, com supertop dinamarquesa FREJA vestida de MiuMiu.E só prá terminar, imaginem só quantos quindins renderam as gemas depois das claras usadas por essa freirinha adorável, lembra?
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