Esse blog, é uma janela para o mundo, porque são tantos destinos para uma só vida

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20 de agosto de 2011

ESCREVER COM A LUZ



FOTOGRAFIA literalmente significa, escrita com a luz. A linguagem fotógrafica, de captar imagens atravéz de um olho mecânico, obturador, traduz em parte este conceito, mas artisticamente prescinde de outro. Sendo arte o trabalho de um artista, escolher as imagens captadas, congelar um instante, revelar o que ninguém percebe, são os desafios missionários daqueles que se utilizam desta mídia, o de grafar um pensamento pela observação, quase provar uma tese.
As fotos de Carolina Krieger apresentadas na mostra "O Silêncio me contou" traduzem este movimento de maneira delicada, quase ilustrativa. Momentos de transposição de uma linguagem para outra da percepção ao registro retornando ao narrativo imaginário.



É lugar-comum repetir que uma imagem vale por mil palavras e o esvaziamento reflexivo de tornar lugares-comuns verdades espreita nos lampejos intuitivos, na vontade de questionar, no silêncio medroso de ousar interpretar .
Carolina tem uma irmã gêmea, Isadora, que assina o texto de abertura da mostra .
Irmãos gêmeos são curiosidades naturais e estas duas são expoentes de uma união estética clara.
Já tiveram uma marca de roupa que assinava "As gêmeas" e agóra assinam este trabalho praticamente à quatro mãos.
Como não ver com outros olhos o ping-pong que se estabelece entre o texto, este mesmo elíptico e as fotos que com graça viajam no jogo de transposições sensoriais, da visão, ao registro, da percepção à grafia, do sentir ao conceituar.
Algumas imagens e outras tantas palavras podem falar mais que mil teorias.

O Silêncio Me Contou 
Isadora Krieger

 O silêncio alimenta a imaginação, foi o próprio silêncio que me contou, sutilmente com tais palavras, nem sequer me deu tempo para enfeitá-las, me contou que é porque vive apenas no presente nu, que tempo é coisa do nosso movimento. Eu imaginei que tratar o tempo como concreto me ajuda a ultrapassá-lo, que se vejo o tempo tal qual um boneco de corda eu o reinvento, mas que a minha reinvenção só diz respeito a minha consciência, e aquelas que eu conseguir trazer para dentro das imagens feitas no presente nu. O silêncio me contou que quando durmo estou no presente nu, que o sonho tem outro movimento que não guarda tempo, e que por tal motivo é chamado de sonho, que se todos ultrapassassem o tempo não haveria mais distinção entre sonho e realidade. Eu imaginei que o amor também ultrapassa o tempo, que às vezes desaparece com ele e noutras vezes o estica, que o amor nos leva para o presente nu, que se todos permanentemente sentissem o amor não haveria mais distinção entre vida e morte, e que tal falta de distinção é a loucura, a loucura de uma lucidez absurda. o silêncio me contou que tal percepção é uma sutileza, mas que é na sutileza que o ilimitado reside, que a percepção é sempre grandiosa, porque ainda que nunca mais seja sentida na mesma intensidade nos traz a sabedoria que fica, que preenche lacunas e nos alimenta durante toda vida. Eu imaginei que a percepção é uma linha invisível com a qual fisgamos uma ideia das águas profundas do subconsciente, que durante tal pesca a ideia se torna tão clara que pode gerar uma epifania, que a epifania é um fragmento da eternidade, e que a eternidade já está acontecendo